No dia dos seus 85 anos
A minha avó... foi uma pessoa com 85 anos de uma vida cheia de tudo aquilo que a vida lhe podia dar.
Nasceu numa família tradicional portuguesa, e foi a alegria do pai que pendurou o traje de luzes por ter nascido uma menina. Cresceu uma “maria rapaz” que trepava a árvores e corria pelos campos, sempre excelente aluna e muito inteligente, fez a quarta classe, coisa que era um luxo na altura para uma menina.
Aos treze faleceu-lhe o pai em consequência de uma queda de cavalo e teve de luto, fechada em casa 3 anos.
Conheceu o meu avô, um rapaz janota, com quem casou e foi morar para a zona das caldas, aí a minha avó percebeu que tinha de fazer pela vida, aprendeu a picar mós para fazer o moinho da família moer farinha, foi taberneira entre muitas coisas, teve que lidar com as traições e maus tratos do meu avô e teve três filhos, que criou sozinha.
Voltou para Alcochete, a sua terra, divorciou-se do meu avô e dedicou-se a fazer alguma coisa pela terra, foi dirigente desportiva do extinto Imparcial, foi Presidente de Junta, Presidente da Mesa de Assembleia, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Alcochete.
Era do Benfica, não perdia um jogo e percebia imenso de futebol
Trabalhou ao balcão de uma padaria até aos 74 porque a reforma era baixa, mas adorava o que fazia porque tinha muitos amigos e dava conselhos, tinha sempre 2 meses de férias, um à conta dela
Sempre gostou de fazer campismo, começou pelo selvagem, esteve no parque de Troia e até hoje tem uma roullote no Parque de Melides.
Sempre conduziu e tinha carta há bem uns 60 anos, sem acidentes, ainda há quinze dias foi a Melides tratar de umas coisas relacionadas com o alvéolo e voltou no mesmo dia, fazia o percurso mais rápido que eu, dizia que sabia onde eles estavam e onde podia acelerar.
Não tinha telefone, nunca quis, dizia que o telefone afasta as pessoas e que se precisasse de ajuda era mais fácil gritar na escada que ligar a alguém.
Não acreditava em Deus nem na igreja católica, dizia que era tudo inventado pelo homem para poder comandar o mundo, mas acreditava que tinha um anjo da guarda que a protegia.
Adorava tâmaras, Orquídeas, hortenses, animais.
Tinha como seu melhor e mais fiel amigo o seu cão Budy, que ela com muita tristeza viu partir.
Viveu sempre com dignidade, lealdade e amizade
Era uma pessoa de garra a minha avó, mas o que melhor recordo dela é os domingos em que não ia trabalhar e brincávamos na cama, do tomate com ovos que ela fazia como ninguém, dos fins de semana no Opel Record a fazer campismo selvagem, das féria no Algarve em que fiquei toda mordida pelos mosquitos, das almoçaradas em família e com amigos na fazenda e na praia, de como com 60 anos ainda trepava às arvores, daquela vez que íamos espetando o carro pela ribanceira abaixo, dos copinhos de licor e da lerpa, das atenções que me dispensava e daquela vez que veio do médico com um diagnóstico que ela desconhecia e me pediu para procurar na net o que era aquilo e descobrimos o que era o mieloma múltiplo, de como ela reagiu e contou a toda a gente, e viveu com isso com perfeita consciência, garra e valentia.
Um dia disse-me, porque tinha problemas cardíacos também, “espero que o meu coração me pregue a partida e me leve antes que o mieloma, deve ser melhor morrer de ataque cardíaco do que definhar com esta doença, não achas?” Eu porque achava que ela ia ser eterna disse-lhe “não sei nunca morri de nenhuma” e rimo-nos as duas.
O coração fez-lhe a vontade e eu choro porque ela me deixa muita saudade!!!
Nasceu numa família tradicional portuguesa, e foi a alegria do pai que pendurou o traje de luzes por ter nascido uma menina. Cresceu uma “maria rapaz” que trepava a árvores e corria pelos campos, sempre excelente aluna e muito inteligente, fez a quarta classe, coisa que era um luxo na altura para uma menina.
Aos treze faleceu-lhe o pai em consequência de uma queda de cavalo e teve de luto, fechada em casa 3 anos.
Conheceu o meu avô, um rapaz janota, com quem casou e foi morar para a zona das caldas, aí a minha avó percebeu que tinha de fazer pela vida, aprendeu a picar mós para fazer o moinho da família moer farinha, foi taberneira entre muitas coisas, teve que lidar com as traições e maus tratos do meu avô e teve três filhos, que criou sozinha.
Voltou para Alcochete, a sua terra, divorciou-se do meu avô e dedicou-se a fazer alguma coisa pela terra, foi dirigente desportiva do extinto Imparcial, foi Presidente de Junta, Presidente da Mesa de Assembleia, Provedora da Santa Casa da Misericórdia de Alcochete.
Era do Benfica, não perdia um jogo e percebia imenso de futebol
Trabalhou ao balcão de uma padaria até aos 74 porque a reforma era baixa, mas adorava o que fazia porque tinha muitos amigos e dava conselhos, tinha sempre 2 meses de férias, um à conta dela
Sempre gostou de fazer campismo, começou pelo selvagem, esteve no parque de Troia e até hoje tem uma roullote no Parque de Melides.
Sempre conduziu e tinha carta há bem uns 60 anos, sem acidentes, ainda há quinze dias foi a Melides tratar de umas coisas relacionadas com o alvéolo e voltou no mesmo dia, fazia o percurso mais rápido que eu, dizia que sabia onde eles estavam e onde podia acelerar.
Não tinha telefone, nunca quis, dizia que o telefone afasta as pessoas e que se precisasse de ajuda era mais fácil gritar na escada que ligar a alguém.
Não acreditava em Deus nem na igreja católica, dizia que era tudo inventado pelo homem para poder comandar o mundo, mas acreditava que tinha um anjo da guarda que a protegia.
Adorava tâmaras, Orquídeas, hortenses, animais.
Tinha como seu melhor e mais fiel amigo o seu cão Budy, que ela com muita tristeza viu partir.
Viveu sempre com dignidade, lealdade e amizade
Era uma pessoa de garra a minha avó, mas o que melhor recordo dela é os domingos em que não ia trabalhar e brincávamos na cama, do tomate com ovos que ela fazia como ninguém, dos fins de semana no Opel Record a fazer campismo selvagem, das féria no Algarve em que fiquei toda mordida pelos mosquitos, das almoçaradas em família e com amigos na fazenda e na praia, de como com 60 anos ainda trepava às arvores, daquela vez que íamos espetando o carro pela ribanceira abaixo, dos copinhos de licor e da lerpa, das atenções que me dispensava e daquela vez que veio do médico com um diagnóstico que ela desconhecia e me pediu para procurar na net o que era aquilo e descobrimos o que era o mieloma múltiplo, de como ela reagiu e contou a toda a gente, e viveu com isso com perfeita consciência, garra e valentia.
Um dia disse-me, porque tinha problemas cardíacos também, “espero que o meu coração me pregue a partida e me leve antes que o mieloma, deve ser melhor morrer de ataque cardíaco do que definhar com esta doença, não achas?” Eu porque achava que ela ia ser eterna disse-lhe “não sei nunca morri de nenhuma” e rimo-nos as duas.
O coração fez-lhe a vontade e eu choro porque ela me deixa muita saudade!!!
6 comentários:
Que lindo o amor, amizade e admiração que tens pela tua avó!
Os meus sentimentos pela tua perda.
Beijinhos,
Lena
obrigada Lena.
Olha, isto não se faz!
Estou no meu local de trabalho, sentada em frente a um computador e com mais 3 pessoas na mesma sala, e tenho que estar a limpar o nariz à manga do casaco porque o pingo não para e as lágrimas vieram-me aos olhos. Não por tristesa porque infelizmente não conheci a tua avó, mas porque falas dela de uma forma tão bonita e simples que me comovi!
A saudade é uma coisa que vai ficar para sempre, eu já fiquei sem o meu avâ mais querido, o meu segundo pai, e sei bem o que isso é, mas as lembranças boas também, e é por isso que a vida vale a pena!
LINDO!
Palavras para quê?
Lindo!
Palavras para quê???
Estou completamente arrepiada com este texto. Era uma heroína, sem dúvida.
Uma grande mulher. Parabéns por teres tido a oportunidade de conheceres uma senhora assim.
Beijinhos
Enviar um comentário